Na quinta-feira (22/5), o Auditório Paulo Freire, no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), foi palco da apresentação do primeiro episódio do documentário “Folha Corrida”. O evento reuniu estudantes, professores e membros da comunidade externa para uma exibição seguida por um debate sobre o papel de empresas privadas na sustentação da repressão nos anos mais duros da ditadura civil-militar no Brasil que perdurou por 21 anos (1964-1985).
“Folha Corrida” é um projeto audiovisual do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), que busca dar visibilidade a trajetórias marcadas pela violência institucional e violações de direitos humanos. O episódio, exibido com exclusividade, trouxe depoimentos emocionantes, análises críticas e dados que revelam as contradições e injustiças dos encarceramentos e torturas realizadas pelo regime ditatorial com apoio de conglomerados empresariais nacionais e multinacionais, em especial a Folha de São Paulo, como a utilização de seus veículos para monitoramento e prisão dos classificados como “subversivos” pelo regime.
Após a exibição do vídeo, compuseram a mesa de debate Ivan Seixas, jornalista preso e torturado durante a ditadura, que participou por vídeo conferência, além dos professores Alexandre Mendes (Direito/UFRRJ), Nalayne Pinto (Ciências Sociais/UFRRJ), e Flora Daemon, professora do curso de Jornalismo da UFRRJ e uma das autoras do livro “A serviço da Repressão: Grupo Folha e Violações de Direitos na Ditadura”, que serviu como fonte para a elaboração do documentário.
Flora Daemon iniciou o debate relembrando as dificuldades na pesquisa para a elaboração do livro e como foi o encontro com vítimas da ditadura. O docente Alexandre Mendes comentou que naquele período as torturas foram possíveis devido à supressão de direitos individuais e coletivos. “O Congresso foi fechado e uma nova constituição elaborada para permitir que não houvesse constrangimento legal para os torturadores e, mais à frente, uma anistia garantiu que não fossem responsabilizados pelos crimes que cometeram. Algo parecido com o que tentam fazer hoje com uma nova anistia à tentativa de golpe em 2023”, enfatizou o professor.
A professora Nalayne Pinto, por sua vez, comparou os veículos da Folha de São Paulo aos carros utilizados pela Polícia Militar do Rio de Janeiro contra a população marginalizada nas periferias e, ainda, como a repressão do Estado se dirige às minorias, em especial a população pobre e negra. “Olhando aqueles veículos escuros, que não permitiam ver quem ou o que estava dentro, é um cenário muito parecido com os ‘caveirões’ entrando nas comunidades para atirar e matar nos dias de hoje”, refletiu a professora.
O depoimento do jornalista Ivan Seixas emocionou a plateia, que o aplaudiu de pé, ao final de sua fala, por cerca de cinco minutos. Ele relembrou sua prisão aos 15 anos de idade junto com seu pai, também militante, que morreu em 1971 na sede do DOI-CODI/SP, no dia seguinte à prisão, em decorrência das torturas sofridas por agentes do Estado. Dirigindo-se aos discentes, em especial aos futuros jornalistas, Seixas enfatizou a necessidade de ser subversivo em sua profissão. “Ser subversivo é um tesão”, frisou ele, em alusão à prerrogativa do jornalista em não ceder aos desmandos dos veículos de comunicação em que trabalham ou venham a trabalhar.
O evento foi uma realização dos cursos de Jornalismo, Direito e Ciências Sociais, pelos 40 anos do fim do período ditatorial no Brasil e representa um marco na agenda cultural e acadêmica da UFRRJ, reafirmando o papel da universidade pública na produção de conhecimento comprometido com a realidade brasileira e com a luta por uma sociedade mais justa.
Serviço:
Livro: “A serviço da Repressão: Grupo Folha e Violações de Direitos na Ditadura”, que serviu como fonte para a elaboração do documentário. Autores: Ana Paula Goulart Ribeiro, Flora Daemon e outros. Mórula Editorial, 2024.
Imagens: Antonio Carlos Comodaro e Rodrigo Maciel
Texto: Antonio Carlos Comodaro, discente do curso de Direito, bolsista do PDAI/ICHS, sob a supervisão de Alessandra de Carvalho (DLC/ICHS)
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